Cante P.U.T.A como uma Mulamba

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Fonte: Divulgação/Reprodução

“P.U.T.A” trouxe a banda Mulamba “para os holofotes” mesmo que para públicos específicos. Com uma letra crua e forte, o grupo de seis cantoras carrega, em trechos de seu single, a luta que mulheres passam somente por serem do sexo feminino vivendo em uma sociedade extremamente machista e sexista. 

A fala esdrúxula em relação ao tratamento dado à mulher, a culpabilização da vítima que sofre a violência sexual, a narração dos perrengues e atos passados pelo sexo feminino, a ideia de tratar o assunto do estupro como um ato pequeno e sem pouca repercussão. Foram esses fatos que as cantoras reuniram em “P.U.T.A” obtendo bastante simpatia de mulheres que reconheceram essas falas em seus cotidianos. 

Não é de se estranhar que a composição foi após uma das componentes do grupo ouvir relatos de uma mulher sobre ter medo de descer de um ônibus, sozinha, durante a noite. E não precisou de muito tempo para que a letra ficasse pronta. Juntando o que suas conhecidas e elas mesmas passaram e passam, foi feita, em duas horas, a dura escrita de “P.U.T.A”.

O clipe oficial, disponível na página da banda conta, apresenta as 6 integrantes dispostas no quadro com fundo preto e com a luz baixa. É possível identificar a intencionalidade de retratar, junto da sonoridade - que se inicia de maneira suspensa com um violoncelo e um violão, acompanhados de um instrumento de percussão ditando o ritmo da melodia - e a seriedade na face das cantoras, o que vem a ser contado na letra, em conjunto do que é sentido pelas protagonistas - mulheres - da canção. 

“Na cabeça a mesma reza. Deus que não seja hoje o meu dia. Faço a prece e o passo aperta. Meu corpo é minha pressa”. A música se inicia. As vozes se abrem contando a história. Uma complementa a outra deixando a ideia de narração e dor da letra bem nítida. Isso perdura durante toda a canção que foi para o YouTube na versão acústica. Há partes em que as vozes e os instrumentos aumentam o volume e vezes em que aceleram o ritmo, isso, de acordo com a letra trabalhada. 

“A roupa era curta. Ela merecia. O batom vermelho. Porte de vadia. Provoca o decote. Fere fundo o corte. Morte lenta ao ventre forte”. Cantada de maneira corrida, são presentificadas frases ouvidas por quem culpabiliza a vítima após atos de violência sofrido. Após essa parte, o som do violoncelo se sobressai com um barulho semelhante ao de uma ambulância fazendo alusão a ideia de que houve algum acidente. E a letra, assim, se concretiza junto da melodia e da interpretação bem feita, também, acompanhada da parte visual da maneira com que as seis mulheres se expressam, com dor, ao entoar a música.


MULAMBAS

Com um viés feminista, Amanda Pacífico, Cacau de Sá, Caro Pisco, Fer Koppe, Naira Debértolis e Nat Fragoso formaram a banda Mulamba. Primeiramente, se reuniram para fazer um tributo à Cassia Eller e, em seguida, começaram a fazer composições autorais tratando de temas que envolvem a mulher, lutas sociais que agregam não só o público feminino como o masculino também. 

O nome da banda foi escolhido a fim de ressignificar a ideia da palavra mulamba antes considerada pejorativa como alguém desleixado e feio, mas, agora, com a concepção de força e protagonismo. Elas se vestem de maneira despojada “fora dos padrões” ditos femininos e não querem se enquadrar nesse esteriótipo de mulamba, mas, sim, no recriado por elas mesmas de mulheres empoderadas que podem falar e ser o que quiserem.

Fora das letras e melodias, a maior presença do sexo feminino na indústria musical também é uma pauta tratada pelo sexteto que tem em sua equipe somente mulheres mostrando que elas podem executar qualquer tarefa desde que queiram e possam. 

Em suma, o grupo formado por seis mulheres empoderadas e empoderadoras traz, em seu trabalho, o que o sexo feminino passa de maneira fria e crua, expondo a realidade e procurando, de alguma forma, trazer reflexão sobre esse tema, visto que, como elas mesmas dizem, só é possível pensar sobre determinado assunto se ele for discutido e é isso que elas vêm fazendo.

“Música é manifesto. Assim como colocam na rua letras que diminuem a mulher, nós a empoderamos”.


Assista ao clipe na íntegra: 






Gabrielly G. Minchio

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