Linna Pereira, ou melhor, Linn da Quebrada é atriz, cantora e decompositora. Nascida na
periferia da Capital Paulista e criada no interior, Linn é uma ativista social pelos direitos das
bichas, principalmente as trans e travestis, contra a heteronormatividade dentro e fora do
meio LGBTQ+.
Seu vídeoclipe para a música “Mulher” é quase um curta metragem, com 10 minutos e 18
segundos, e fala sobre a heteronormatividade tóxica, o sofrimento das trans e travestis e
sororidade feminina.
O vídeo começa com a personagem principal sentando num altar, e após o som de um sino,
ela levanta a cabeça. Percebemos que é a Linn, que começa a se despir e a acender as velas
que estão suportadas numa cinta erótica em dois corpos identificados como masculinos. Na
medida que ela acende as velas, de joelhos para esses homens, eles parecem gozar, enquanto
a cera quente pinga em seu corpo despido, como se derretendo o falo, a figura mais
representativa da “masculinidade”, trouxesse um prazer de alívio aos personagens homens,
que diferentemente dela, se apresenta numa posição masoquista e no final do ato, acaba
sozinha, largada ao chão, toda marcada pela cera.
No segundo ato, Linn está vestida com uma roupa brilhante andando na rua, e no fundo,
ouvimos um áudio de sua mãe, que acaba quando ela se debruça e entra num carro de um
homem, que parece ser um amante ou cliente. Começa a tocar a música, que fala sobre a
vivência da mulher travesti, que é invisibilizada e marginalizada.
Em outros cortes, paralela a essa trama, aparecem várias diferentes representatividades de
personagens mulheres, em várias situações cotidianas, que no fim, no último ato, se
encontram marchando juntas na rua.
Há um momento que as duas histórias se cruzam, que é quando o homem a tira do carro a
força, e junto de outros, tentam a estuprar, mas as personagens femininas chegam para salvar
Linn, e logo após se reúnem e se lavam, acariciando uma a outra, mostrando a importância da
sororidade feminina, contra o patriarcado masculino e na manutenção da empatia.
Linn, ao se colocar como Mulher, se liberta da masculinidade tóxica que tenta aprisionar os
corpos, mesmo sendo um processo doloroso e, por muitas vezes, solitário. Ela mostra que
consegue expandir a visão normativa de gênero, e resiste numa das intersecções presentes na
teoria queer, além de mostrar que as opressões são hegemônicas, e se apoiam uma nas outras
montando um sistema interdependente.
Em “Mulher”, a artista convida às mulheres cis para o reconhecimento da sua existência e ao
mesmo tempo relata, poeticamente, a dor da sua emancipação à heteronormatividade.
Confira aqui:
Autor: Caio Mendes
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