Lugar de fala: você ocupa o seu?


Aqui, a gente apresenta opiniões acerca de temas relacionados às discussões de gênero, sexualidade, racismo e LGBTfobia, sob um olhar do Feminismo e da Teoria Queer. 
Muito se tem ouvido dizer sobre “lugar de fala” ultimamente. O conceito, que se refere à posição ocupada por determinado indivíduo dentro de uma hierarquia social, é massivamente utilizado de maneira equivocada. Erroneamente, o termo é empregado, não poucas as vezes, para indicar se alguém possui ou não propriedade para discutir determinado assunto. Quando não a tem, dizem ser um sujeito “sem lugar de fala” perante o tema. Ora, se todos estão inseridos na sociedade, é lógico, portanto, que todos tenham, também, uma localização no estrato social.
Se por um lado, todo mundo tem lugar de fala, esses lugares, entretanto, não são igualmente privilegiados. A fala de alguns está mais distante de ser ouvida do que de outros. Os grupos de minoria social são historicamente calados dentro de um sistema que impõe e perpetua discursos opressores. Dessa forma, é crucial que os cidadãos reflitam sobre a sua posição e entendam os seus privilégios para não continuarem a propagar a violência. Logo, é, de fato, fundamental que se discuta o feminismo com homens, o racismo com brancos e a lgbtfobia com héteros. Entretanto, não se pode tomar o lugar de fala das pessoas que vivem essas questões na pele de modo mais agressivo, e até mesmo fatal.
O ator, cantor e comediante Érico Brás, negro, homem e hétero, no dia 14 de agosto, postou em sua conta no Instagram uma foto acompanhada da frase “...não sou feminista. Luto para ser menos machista todo dia...”. Na descrição, seguia um pequeno texto: “O que vc acha? O Feminismo é um sistema das mulheres. Nós já somos os donos de quase tudo. Tudo é masculino. Até a bandeira sistemática das mulheres a gente tem que se apropriar? Discordo.”. Na ocasião, o artista se expressou sobre o movimento feminista, que busca a igualdade social, política, econômica e sexual entre mulheres e homens.


Em sua situação de privilégio, Érico soube se posicionar apoiando o movimento ao mesmo tempo em que reconhece sua condição. Ele sabe que tem responsabilidade social sobre o problema; entende que, como homem, inserido em uma sociedade machista e patriarcal, está propenso a ser um agressor. Ele é um incentivador do movimento, contudo, está ciente de que o feminismo não é para ele, é para as mulheres. O ator ocupou o seu lugar de fala, utilizou de sua visibilidade e credibilidade, da sua “voz” soando mais alto, iniciando um debate fundamental para um grupo minoritário.

Letícia Soares

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