Desnude, do canal GNT

O #PapoFeminsta é aquele cantinho especial onde xs Intermidiáticxs gritam “O QUE DISSE MACHISTA?”. É aqui que a gente usa tudo que estudamos sobre Teoria Feminista pra analisar e problematizar filmes, séries, políticas públicas, canais de comunicação e várias outras construções surgidas nessa sociedade patriarcal que merecem ser repensadas.  

Durante séculos, a sexualidade feminina foi renegada, reduzida à procriação e a ser objeto de satisfação masculina. Sem a chance de conhecer o próprio corpo, e proibida de sentir prazer durante o ato sexual, a mulher não conhecia o orgasmo feminino – que permaneceu desconhecido até o século XIX. Foi logo no seguinte, entretanto, que as coisas começaram a mudar. A emancipação sexual feminina teve seu grande marco com a pílula anticoncepcional. Com ela, a mulher tinha escolha sobre a maternidade, podendo manter relações sexuais por simples prazer.
Apesar das transformações, resquícios e consequências de um ultrapassado pensamento persistem na atualidade. A mulher, mesmo que sexualmente mais livre, ainda não encontra com facilidade, por exemplo, filmes e séries eróticas contemplando o seu desejo. Esses produtos, logicamente, visam atender a quem mais os consome: os homens - que, historicamente, tiveram permissão para vê-los.
A minissérie “Desnude”, do canal pago GNT, busca justamente resgatar esse público feminino que ficou esquecido e não se sente representado. A produção é dirigida e produzida por mulheres, pensada para mulheres e inspirada em mulheres reais. Todos os 10 episódios contam histórias e fantasias sexuais enviadas e sugeridas pelas espectadoras do programa. A iniciativa se mostrou ainda mais importante frente aos resultados da pesquisa online feita pelas idealizadoras: 82% das mulheres entrevistadas, que assistem a produções eróticas, acha que o sexo encenado não é o que procura.
Com um discurso de viés feminista, a série acerta ao colocar a mulher como protagonista do seu próprio prazer. Em todo capítulo, são elas as responsáveis por cada ação, desejo ou pensamento, libertando as personagens, e espectadoras, de preconceitos ou julgamentos. A produção é uma espécie de lugar seguro para as sensações femininas, ainda alvo de condenação social. Porém, apesar dos acertos e da boa intenção, alguns deslizes são cometidos e acabam por reafirmar alguns preconceitos.
O primeiro episódio da série, intitulado “sobre ontem à noite”, por exemplo, traz a história de um casal que compartilha fantasias sexuais para se excitarem. Durante a conversa, tanto a mulher incentiva o homem a pensar nela se relacionando com outra mulher, quanto o homem a provoca relatando um menáge com outras duas mulheres. Essas duas narrações reforçam, respectivamente, a sexualização e a objetificação conferidas às relações lésbicas, e à errônea ideia de que “falta algo” nestas, como se só elas não fossem capazes de dar prazer uma à outra.

Este e outros equívocos na minissérie são a prova de que a cultura machista está impregnada na sociedade e nas próprias mulheres. Ainda há muito o que lutar para acabar com esses clichês e colocar a mulher, de fato, como dona do seu prazer e das formas para alcançá-lo, mas, por enquanto, a série é válida e já representa mais um grande passo rumo à libertação sexual feminina.

Letícia Soares

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