Ela Quer Tudo e o feminismo negro

O #PapoFeminsta é aquele cantinho especial onde xs Intermidiáticxs gritam “O QUE DISSE MACHISTA?”. É aqui que a gente usa tudo que estudamos sobre Teoria Feminista pra analisar e problematizar filmes, séries, políticas públicas, canais de comunicação e várias outras construções surgidas nessa sociedade patriarcal que merecem ser repensadas.

Fotos: Divulgação/Netflix

“She's Gotta Have It” (2007), do diretor Spike Lee, é uma série da Netflix  baseada no filme de mesmo nome de 1986, com dez episódios de cerca de trinta minutos cada em sua primeira temporada. Ela foi renovada para a segunda, e a produção já está acontecendo, mas ainda sem previsão de estreia.
A personagem principal, Nola Darling, é uma jovem artista independente negra, carismática, forte, e moradora do Brooklyn, que se intitula como pansexual e adepta do poliamor.

Possui três parceiros com personalidades totalmente diferentes: Jamie, um empresário rico cheio de classe e que diz estar saindo de um casamento; Greer, um fotógrafo e modelo muito vaidoso e egocêntrico; e Mars, meio bobo, malandro, e muito divertido. Na série, todos são objetificados. A relação da Nola com cada um deles segue suas regras e seus momentos. No meio da série, ela também se envolve com a Opal, que já possui uma filha.

A série sofre diversas críticas pela forma de abordagem do feminismo, da vida afetiva de uma mulher negra, do machismo, da misoginia, da liberdade sexual, do assédio, das desigualdades étnico-raciais, etc. Entretanto, sua existência é necessária.
Uma das abordagens mais criticadas, é em relação à vida afetiva da mulher negra. Enquanto Nola tem três parceiros que imploram por um relacionamento mais profundo com ela, a realidade para a maioria das mulheres negras é ter uma vida afetiva precária ou inexistente. Realidade em que a maioria se submete a situações que não reconhecem sua individualidade, feminilidade e, muitas vezes, sua humanidade ou, de fato, são preteridas. O título de “mulher pra casar”, ainda que seja carregado de machismo, nunca é para uma mulher negra.
[…] Mais que qualquer grupo de mulheres nesta sociedade, as negras têm sido consideradas ‘só corpo, sem mente’. A utilização de corpos femininos negros na escravidão como incubadoras para a geração de outros escravos era a exemplificação prática da ideia de que as ‘mulheres desregradas’ deviam ser controladas. Para justificar a exploração masculina branca e o estupro das negras durante a escravidão, a cultura branca teve que produzir uma iconografia de corpos de negras que insistia em representá-las como altamente dotadas de sexo, a perfeita encarnação de um erotismo primitivo e desenfreado. (HOOKS, 1995, p. 469)
Mesmo para uma espectadora negra, consciente do direito à igualdade, há certo estranhamento ao entrar na narrativa, pois estamos acostumadas a ver homens sustentando vários casos amorosos e não se importando com nenhum deles.
"Nola é uma personagem criada por um homem. No processo de produção do programa, isso ficou ainda mais evidente. Daí, adicionamos vozes femininas para dar vida a ela, e houve momentos em que Spike dizia: 'Não entendo o que vocês estão falando'. 'Isso porque você é homem, e há coisas que não pode ver como homem, mesmo para um tão aberto como você tenta ser. É só prestar atenção e deixar que a gente te ajude'. E foi isso que ele fez", disse Lewis Lee em entrevista, que é produtora-executiva da série e esposa de Spike.
Além de suas narrativas, “She's Gotta Have It” traz uma excelente trilha sonora, formada inteiramente por música negra, cujos discos são mostrados. A série alude também às situações da atualidade, como a gentrificação do bairro Fort Greene no Brooklyn, a brutalidade policial, o movimento #BlackLivesMatter, e a eleição de Donald Trump. Tornando-se também um seriado político.
A série inteira é sobre Nola se opondo aos rótulos, às definições das outras pessoas sobre quem ela é, às apropriações e expectativas. Esse posicionamento, em algumas cenas, acaba criando novos rótulos, como dizem os críticos, entretanto, o seriado não só expande o universo sexual da personagem mas também presta atenção às maneiras em que ela e outras personagens femininas negras estão constantemente sendo observadas, exploradas, ameaçadas, e até mesmo agredidas.
Apesar de discordar de algumas coisas retratadas, “She's Gotta Have It” nos faz pensar que somos a protagonista de nossas vidas, que devemos cuidar de nós mesmas para conseguirmos viver neste mundo.
A única temporada encerra bem a narrativa, porém, queremos mais!

Autora: Samily Loures

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