Fonte: MoMA
Paris Is
Burning, documentário dirigido por Jennie Livinson, reflete a cultura de Drag
Queens, nos bailes queer do Harlem, em Nova York. Filmado entre meados e final
dos anos 80, decorre da vida noturna e a realidade pessoal de seus
protagonistas, homens gays, mulheres trans, negros e latinos. Vivendo à margem
da sociedade, a comunidade nova-iorquina que não seguia as condutas normativas
da época, criaram relações familiares não hegemônicas entre si, assim como os
bailes, para escapar da opressão e intolerância que eram submetidos.
O grande
destaque e ponto chave do documentário era o baile, no qual a comunidade se
reunia para competir entre si em diversas categorias, como “empresário”,
“volúpia”, “militar” e “butch queen”. Através do baile, o sonho com a fama e a
aceitação se tornavam possíveis, assim como a elucidação do papel que desejavam
desempenhar na sociedade. As famílias, que concorriam nas competições, também
ganharam importância na produção. As ‘casas’, como eram chamadas, significavam
para os jovens excluídos da sociedade, uma nova forma de adentrar e se sentir
acolhido por outros, uma rede de apoio.
Outra forma de competição descrita no documentário
é o ‘Voguing’, dança que teve sua origem nos bailes de Harlem, Nova York. Neste
tipo de dança, há um enfrentamento a partir da repetição e parodiação das poses
vistas na revista ‘Vogue’. Os passos de dança então, sempre envolviam a
performance visual e corporal, sendo uma forma segura de representar e passar
uma mensagem.
Fonte: NWFILM
Muito do que era feito nos bailes, ganhavam uma
terminologia. As melhores poses, significavam os melhores ‘shades’. Ao invés de
brigar, disputavam entre passos de dança. O ‘veneno’, nasceu verdadeira arte do
insulto. Encontrar um ponto fraco do adversário, sem diminuí-lo diretamente,
era a forma evoluída de se mostrar melhor, com mais atitude e criatividade. Nos
dias atuais, é comum referenciar a dança com a cantora Madonna, sendo
interessante ressaltar que na produção de seu videoclipe, a coreografia foi
feita por membros dos bailes retratados no documentário, assim como os
dançarinos que participaram de seus turnês.
O ganhador
do Prêmio Sundance Grand Jury, Paris is Burning é
um filme de referência no cinema queer. Willi Ninja, nome importante e parte do elenco da
cena drag, como Dorian Corey, Paris Duprée e Pepper LaBeija, define os bailes
como uma ajuda a aperfeiçoar seu estilo, aprender coisas e ideias novas e
leva-las ao mundo real. Essa definição, reflete a Teoria Queer, que está
diretamente relacionada à luta difundida nos bailes de Harlem, Nova York. A
dinâmica da sexualidade e o desejo de transpor as relações sociais vigentes são
objetos presentes na teoria que transparece em Paris Is Burning. A inserção do
sexo para regulação social, sendo o heterogêneo, uma prática moral, fez com que
os queers incorporassem questões fora do padrão hegemônico, através de novos
usos do corpo, seus atos, identidades, culturas e relações sociais.
Urge-se, então, notar que a realidade nova-iorquina
do cenário LGBT da época, questionava os rótulos ilegítimos e inferiorizados
postos à eles. A busca pela imposição, da transformação social e da diferença,
faz com que a Teoria Queer, não busque somente o campo da sexualidade, mas sim
questões de raça, cultural e econômica, assim como identificar e romper com a
visão da prática heteronormativa como ideal. A realidade das pessoas retratadas
no documentário é a exemplificação do queer.
Autor: Hayom Tovi C. Silva
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