Lady Bird: um drama adolescente feminista



“Lady Bird” poderia ser só mais um filme adolescente de dramas clichês e enredo previsível, mas ele consegue ser muito mais que isso. Lançado em 2018, com 99% de aprovação da crítica do site Rotten Tomatoes e faturamento mais de 70 milhões de bilheteria em todo o mundo, a obra é uma autobiografia da sua roteirista e diretora Greta Gerwing. Vale lembrar que Greta foi a única mulher indicada à categoria de Melhor Diretor(a), além de ter concorrido a outras cinco categorias do Oscar.

O filme conta a história de Christine, ou melhor, “Lady Bird” (como ela se denomina), uma adolescente no último ano do colegial que vive na cidade de Sacramento, na Califórnia, e quer estudar Belas Artes no outro lado do país. Mas, para isso, ela precisa contrariar as vontades de sua mãe que trabalha num hospital para sustentar a casa sozinha, enquanto seu marido está desempregado; alcançar boas notas em matemática, sua disciplina mais odiada; e conseguir horas complementares no colégio católico, onde ela não se sente pertencente. E, no meio dessa jornada, Lady Bird entra numa aventura de autoconhecimento, novas experiências, responsabilidades e relacionamentos conflituosos.


Diferentemente dos dramas adolescentes clássicos, a personagem principal não é uma garota rica que está a procura de um amor. Greta, em seu filme, consegue naturalizar temas que são vistos como tabus na sociedade, mas que são muito comuns na vida de uma jovem adolescente, como masturbação, aborto e sexo. Ela leva às telas uma personagem “para frente” (no seu melhor sentido) que fala sobre a sua sexualidade, ocupa lugares, anseia um futuro profissional bem-sucedido, mas que também é sensível e comete alguns (muitos) erros. “Lady Bird” narra ainda as relações afetivas e, principalmente, as femininas do século atual, sejam maternas, profissionais e de amizade, sem criar a velha atmosfera de competitividade ou dualidade entre as personagens.

Sem muita pretensão, “Lady Bird” conquista nossos corações por explorar sutilmente as nuances das relações afetivas e das escolhas de uma jovem mulher que quer ganhar o mundo e ser bem-sucedida. Abrindo mão de tragédias homéricas e shakespearianas, ele mostra que dramas adolescentes podem sim ter um vasto conteúdo, abre mão do estereótipo feminino das comédias românticas tradicionais e ao mesmo tempo, consegue ser leve.
Não dá para negar que o filme, por mais sutil que seja, é muito importante, por trazer a simplicidade e naturalização das questões femininas em um filme super blockbuster dirigido por uma diretora incrível, que ocupa um espaço super masculino, e por muitas vezes machista e assediador.

Autor: Caio Ferreira Mendes

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