A primeira onda do feminismo em Big Eyes

O #PapoFeminsta é aquele cantinho especial onde xs Intermidiáticxs gritam “O QUE DISSE MACHISTA?”. É aqui que a gente usa tudo que estudamos sobre Teoria Feminista pra analisar e problematizar filmes, séries, políticas públicas, canais de comunicação e várias outras construções surgidas nessa sociedade patriarcal que merecem ser repensadas.
Foto: Divulgação

“Big Eyes” (2014), dirigido por Tim Burton, narra a história da artista estadunidense Margaret Keane. Após deixar o marido e ir para São Francisco com uma filha pequena, a artista encontra dificuldades para conseguir um emprego, visto que seu estado civil não era bem-visto para mulheres na sociedade americana dos anos 50. Produzindo suas pinturas de crianças e mulheres, representadas com olhos grandes, nas ruas da cidade para complementar sua renda, a artista conhece o corretor de imóveis e aspirante a pintor Walter Keane. Após o ex-marido ameaçar retirar a tutela de sua filha por não ter uma boa renda e ser mãe solo, ela decide se casar com Keane. Assim, Margaret passa a nomear suas obras com o sobrenome do marido a fim de ganhar maior notoriedade no mundo das artes. Walter Keane, contudo, torna-se extremamente famoso e rico, usurpando o lugar de sua mulher como a autora das obras.

Neste filme, há uma representação do papel de gênero estabelecido pela sociedade patriarcal às mulheres naquele período dos Estados Unidos – principalmente no quesito trabalho. Margaret, durante anos, teve seu reconhecimento profissional silenciado pelo marido por dois motivos centrais, entre vários. Em primeiro lugar, por ser uma mulher à frente da criação de obras de arte e, em segundo lugar, por ser divorciada. Não faltam exemplos de mulheres que, até recentemente, por consequência de um machismo histórico, ocultam sua identidade nas suas obras. Na literatura, por exemplo, a abreviação dos nomes de escritoras é comum, como J.K. Rowling e E.L. James.



No caso de Margaret Keane, além do marido usufruir de seus privilégios, manter um relacionamento abusivo com a esposa e proibi-la de receber a visita de DeAnn, uma amiga que alertava a artista sobre a situação em que ela estava, o filme também apresenta a apropriação feita pelo corretor de imóveis do discurso sobre a estética artística da mulher. Em diversas entrevistas a veículos de comunicação, Walter reproduzia as falas de sua esposa sobre a obra, dizendo coisas como “os olhos são a porta da alma”.

Embora, na sociedade americana, o final dos anos 50 e o início dos anos 60 tenham sido marcados como o período da segunda onda do feminismo, cujas pautas estavam mais voltadas à liberdade sexual e à separação entre sexo e gênero, a situação da artista Margaret Keane enquadra-se perfeitamente em lutas ainda mais primárias do feminismo liberal, sendo tais aquelas que unem todas as mulheres, independentemente de raça, classe social e nível de instrução, como igualdade de oportunidades, o reconhecimento profissional, a autonomia no casamento e o acesso a uma profissão. Esses pontos, inclusive, eram complementares à luta ao direito à participação política na primeira onda, entre o século XIX e parte do século XX.

A verdadeira história sobre a detenção dos direitos das pinturas só foi possível porque Margaret entrou com processo judicial contra o marido no Havaí, depois de ela fugir de uma tentativa de assassinato por parte dele, como narrou o filme. A luta da pintora pelos direitos mais básicos e “universalizantes” do feminismo liberal se concretizou em um julgamento marcante, no qual ela e o marido tiveram que produzir um quadro em frente ao juiz e, em menos de uma hora, a artista terminou a tarefa, enquanto Walter Keane não a fez e alegou dores em seu braço.


Autor: Jonathas Gomes da Silva

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